Mulheres rurais, as mais afetadas pela OMC
Por Violeta Chávez 10/09/2003 às 17:32
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/09/263019.shtml

Mais de 30 organizações e redes de mulheres de várias partes do mundo, reunidas no marco do Fórum "Os Direitos das Mulheres nos Acordos Comerciais Internacionais", em Cancun.

Rechaçaram qualquer acordo que façam os ministros de comércio nessa 5ª Reunião Ministerial da OMC, em temas de agricultura, direitos humanos, gênero, comércio, inversões, privatização e propriedade intelectual.

Durante o primeiro dia deste Fórum, as mulheres fizeram denúncias sobre o sistema multilateral da OMC; as políticas de organizmos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial; e os acordos regionais como o Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), os TLC, o Plano Colômbia e o Plano Puebla Panamá (PPP).

Mais de 200 mulheres, representantes de ONGs e organizações sociais, exigem aos governos que determinem sua própria agenda de desenvolvimento, que reguiem suas economias e que protejam os recursos biológicos e agrícolas dos povos.

No México, o Tratado de Livre Comércio "deixou mais vulneráveis os trabalhadores e trabalhadoras, que por pressão das corporações induziu uma reforma laboral que não respeitava seus direitos", declarou Usula Oswald, do Colégio de Tlaxcala, México. Caso concreto, o da indústria maquiladora que contrata as mulheres com baixos salários, e exige tempo extra, sem nenhuma garantia a seus direitos e segurança no trabalho.

O TLC provocou estragos no campo, expulsando cerda ce 1 780 000 pessoas do campo, disse Oswald. Diante disso, o assunto de agricultura na OMC deveria ser eliminado, pois seus acordos se opõem a um projeto de alimentação soberana, que deteria a expansão de problemas como a desnutrição, inanição e a fome nos povos agrícolas do mundo, declarou.

As condições de intercâmbio geradas pelo livre comércio afetam diretamente o consumo de milhões de famílias rurais; têm feito que o camponês, agricultor se converta em um excluído de seu próprio espaço de vida e de trabalho, obrigando-o a emigrar a outras cidades para vender sua mão de obra.

A proposta das mulheres é que teria que se assegurar a reprodução social, contrária ao sistema de mercados; teriam que ser eliminadas as barreiras estruturais e culturais em relação à participação e liderança das mulheres na política de seus países.

Durante o Fórum foi feito um chamado para participar nas políticas de cada país para que o tema gênero seja considerado dentro das reformas do Estado, que nas últimas décadas, tem sido modificado - sobretudo nos países do sul - pelos governos, para benefício das transnacionais.

As mulheres rurais mais afetadas por acordos entre governos e transnacionais, caso do PPP

Muitas das zonas indígenas do mundo estão na mira das transnacionais, pois aí é onde se concentra o maior número de recursos naturais; o Plano Puebla Panama, promovido pelo presidente Vicente Fox, e onde participam também países da América Central, é uma série de megaprojetos de infraestrutura principalmente, que proporcionaria um cenário adequado para que as transnacionais possam operar "uma região estratégica", de maneira que não possam ter nem barreiras comerciais e sim mão de obra barata dentro de suas indústrias.

Centenas de comunidades indígenas estão ameaçadas pelo PPP; os casos concretos de violação de direitos humanos nas maquilas; a aparição de milho transgênico em estados como Hidalgo e Oaxaca; o despejo de comunidades inteiras por construção de hidrelétricas em Chiapas e Guatemala, são claros exemplos de um sistema que não beneficia as comunidades e menos ainda as mulheres, que estão mais expostas aos trabalhos dentro de sua vida cotidiana.

A repressão aos povos indígenas por parte do governo, que se nega a reconhecer seus direitos econômicos, políticos e culturais é um tema oculto e há a tentativa de apagar a resistência dos povos, sem resultado algum.

A proposta das mulheres em Cancun

As organizações de mulheres mexicanas, entre as quais estão as Mulheres para o Diálogo, Rede Mexicana de Ação Frente ao Livre Comércio, Marcha Mundial das Mulheres, Rede Nacional de Gênero e Economia, Rede de Mulheres Transformando a Economia, Rede Internacional de Gênero e Comércio, Comitê de Mulheres da Aliança Social Continental, a Coordenadora Nacional de Mulheres de Organismos Civis por um Milênio Feminista e a Associação Mexicana de Mulheres Organizadas em Rede propõem um comércio internacional a serviço do desenvolvimento autônomo e soberano, regido por normas e acordos baseados em direitos, na solidariedade, na complementariedade e na colaboração.

Entre seus objetivos está fortalecer e manter um amplo movimento de solidariedade entre grupos de mulheres de base de todo o mundo; promover a igualdade entre as mulheres e os homens, apoiar um processo amplo de educação popular e por em prática as reivindicações e as alternativas comuns aos movimentos de mulheres do mundo.

Trazem a este Fórum uma postura que vêm trabalhando em distintos encontros e fóruns realizados na Cidade do México, em San Cristóbal de las Casas, Chiapas, San Juan Guichicovi, Oaxaca, Cuernavaca e Morelos.

O Fórum "Os Direitos das Mulheres nos Acordos Comerciais Internacionais" convoca à Marcha Contra a Globalização e a Guerra, no dia 13 de setembro, para que todas as mulheres se unam a esta manifestação para exigir igualdade, empregos e ingresso, trabalho digno e justiça social e um país livre da OMC, ALCA e PPP.


cancún português | ações cancún | ações global | resumo | omc cancun | omc news | www.agp.org