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Pesadelo na Esquadra de Bolzaneto

notícia colocada por: azine em 2001-07-28

A esquadra de Bolzaneto, a 20 quilómetros de Génova, foi o local para onde foram levados muitos dos manifestantes detidos. Para estes, o nome Bolzaneto tornou-se sinónimo de pesadelo. Vincent Bonnecase, um francês que acaba de regressar de Génova, contou ao "Libération" o que viveu aí.

"Levaram-me para um edifício com quatro celas, onde vários jovens estavam alinhados contra as paredes. Na última estavam cerca de 15 pessoas, com a cabeça e as mãos encostadas à parede, os pés recuados, em equilíbrio, sem poderem mexer-se. Fiquei nessa posição quatro ou cinco horas. Batiam-nos regularmente sobre as feridas, para que não tivéssemos mais marcas do que as que tinham sido identificadas no hospital. Batiam-nos com as cabeças de encontro à parede, via o meu sangue escorrer. Pedi um advogado e bateram-me mais."

Na cela de Vincent estava também Gwendal, de 26 anos, que afirma que os polícias o espancaram e tentaram obrigá-lo a gritar "Viva o Duce [Mussolini]". Este estudante de Matemática recorda um outro rapaz que estava ao pé dele: "Com muitas dores, pediu que lhe pusessem qualquer coisa entre a cabeça, que estava ferida, e a parede. Bateram-lhe com mais força na ferida, e apertaram-lhe mais as mãos atrás das costas. Ele sufocava e caiu." No corredor, Gwendal viu outro homem ferido. "Tinha espasmos e não conseguia manter-se sentado. Cada vez que caía levantavam-no a pontapé."

Leslie, de 20 anos, conta que na cela das mulheres um médico a avisou de que não receberia cuidados enquanto "não a visse a dobrar, não vomitasse ou não se arrastasse no chão". Outra rapariga limpava o seu vomitado, enquanto os polícias se riam. Uma espanhola que esteve detida quatro dias diz que também a obrigaram a gritar "Viva o Duce" e lhe chamavam "bastarda" enquanto lhe batiam.

Um polícia que pediu o anonimato confirmou na quinta-feira alguns destes abusos ao diário italiano "La Repubblica". "Sinto ainda o odor dos excrementos dos presos que não eram autorizados a ir à casa de banho", recorda daquela que descreve como uma "noite chilena". "O que aconteceu foi uma suspensão dos direitos", declara. Ontem, outro polícia citado pelo mesmo jornal recordou os "gritos e choros" que ouviu em Bolzaneto, por onde, em três dias "passaram mais de 500 pessoas".

A.P.C


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